A cidade de Alexandria foi construída no delta do rio Nilo
(Egito) em 331 a.C por Alexandre Magno da Macedônia. Sua construção foi
cuidadosamente planejada por um arquiteto que a fez num padrão de grades. Era
um futurista antecipando, por muitos séculos, a geometria das coordenadas.
Nove anos após o início da obra, Alexandre Magno morreu
repentinamente. Ptolomeu I, que fora um dos generais de Alexandre e governador
do Egito, assumiu o controle da região, se autodenominando rei, dando início à
dinastia ptolomaica.
Ptolomeu II, filho e sucessor de Ptolomeu I, foi responsável
pela criação da biblioteca e museu (Escola de Alexandria), conseguindo adquirir
muitas obras importantes que fizeram de Alexandria um centro de pesquisa de
alto nível, o primeiro instituto estatal de pesquisa do mundo, segundo algumas
fontes.
Nomes de célebres geômetras e matemáticos do passado, como
Eratóstenes de Cirena (o primeiro a medir a circunferência da Terra), Apolônio,
Diofante, Heron, Hipácia e o próprio Euclides estiveram ligados àquele centro
de pesquisa. Euclides foi um dos primeiros de uma longa lista de estudiosos que
trabalharam no centro de pesquisa de Alexandria. Quase todos os matemáticos e
cientistas gregos que se seguiram a Euclides lá estiveram e deixaram seus
trabalhos.
A astronomia também atingiu seu ápice em Alexandria com a
obra de Hiparco (século 2º a.C) e Cláudio Ptolomeu (2º século d.C). Durante o
período entre Euclides e Diofante, Alexandria continuou sendo a capital do
mundo civilizado mas estava sempre sob a ameaça de exércitos estrangeiros.
Hipácia foi a última intelectual a trabalhar no centro de
pesquisa de Alexandria.
Hipácia nasceu em Alexandria (370 d.C). Filha de Téon, famoso
matemático e filósofo, aprendeu matemática com seu pai e tornou-se sua
colaboradora mais próxima.
Hipácia escreveu comentários importantes sobre duas obras gregas
famosas: a Aritmética de Diofanto e as Seções Cônicas de Apolônio, ambas lidas
até hoje. Era obcecada pela Matemática e pelo processo de demonstração lógica.
Palestrante carismática, discursava sobre Platão e Aristóteles, em palestras
públicas muito concorridas, atraindo até alunos de Roma e Atenas. Personificou a
ciência e o raciocínio gregos. Segundo alguns relatos, o patriarca de
Alexandria, Cirilo, começou a oprimir os filósofos, cientistas e matemáticos a
quem chamava de hereges. Tramou contra Hipácia e instigou as massas contra ela.
Durante a quaresma de 415 d.C Hipácia foi retirada à força de
sua carruagem, teve suas vestes rasgadas e foi levada ao interior de uma igreja
e lá brutalmente assassinada por cristãos enfurecidos que com ostras afiadas a
esfolaram retirando as carnes dos ossos e atirando ao fogo parte de seu corpo.
Quanto à destruição parcial ou total da biblioteca de
Alexandria há 4 possibilidades aceitas, entre as quais:
I.
Incêndio em 47 a.C quando Júlio César incendiou
a frota de Cleópatra, tentando derrubar a rainha do Egito do poder. A
biblioteca era localizada perto do porto e foi parcialmente destruída.
Cleópatra valorizava o conhecimento e decidiu restaurar a biblioteca alojando-a
no Templo de Serápis. Também conseguiu reunir importantes e numerosos
exemplares de obras confiscadas de cidades vizinhas. Essa prática perdurou por
alguns séculos.
II. Decreto
do imperador Teodósio I em 391 d.C que ordenou a Teófilo, bispo de Alexandria,
a destruição de todos os templos pagãos. No Templo de Serápis quase todos os
livros da biblioteca, os ícones e os altares foram destruídos pela fúria dos
cristãos.
III. Ataque
dos muçulmanos em 642 d.C.
O Califa Omar ordenou que todos os livros fossem destruídos.
Não sabemos avaliar os grandes tesouros da matemática babilônica
e grega que foram reduzidos a cinzas ao longo dos tempos de destruição.
Eram 200 mil rolos da biblioteca. Lá também se perderam 100
peças teatrais de Sófocles, das quais, só 7 tragédias sobreviveram. Foi quase
um milagre 6 volumes da Aritmética de Diofante terem sobrevivido à tragédia de
Alexandria.
A destruição da biblioteca de Alexandria trouxe a morte da
cultura grega. A tradição grega de abstração e demonstração foi perdida e a
Europa entrava em lamentável e profundo declínio intelectual. Era o início da
Idade das Trevas.
Só depois de 1453, quando os turcos saquearam Constantinopla
aconteceria a retomada da Matemática na Europa. Alguns poucos, mas preciosos,
volumes da Aritmética lá chegaram. É que manuscritos que sobreviveram à destruição
de Alexandria haviam sidos reunidos em Constantinopla estavam novamente
ameaçados de destruição. Então, os estudiosos bizantinos fugiram para o
ocidente com os textos que puderam carregar o que permitiu à Europa fazer sua
retomada vital para a Matemática.
No início do século XVII, Pierre de Fermat teve oportunidade
de ter acesso a um desses exemplares que lhe serviu de inspiração. Foi uma
cópia da Aritmética que tornou seu mestre. De fato, Diofante apresentava a
Fermat cerca de 1000 anos de conhecimento dos números, obtido por Pitágoras e
Euclides. Fermat estava decido a retomar o estudo dos números.
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